Primeira pessoa: Sobre um Sarau e suas emoções

Neste domingo, eu participei de um Sarau à convite da minha mentora na escrita, Fernanda Rodrigues. Foi o primeiro Sarau do Projeto Escrita Criativa. Nele, li um dos textos deste blog (Uma Saudade Recorrente) e estive em meio a mulheres maravilhosas que trouxeram muitas emoções à tona com os textos delas.

Pra quem perdeu, assista aqui!

Como boa virginiana, no presente eu consigo lidar bem com fatos através de ações. Mas a racionalidade, o pensar sobre o que faço, costuma ser feito antes, através do planejamento ou depois que as coisas acontecem com a ruminação. Demorei, então, pra entender todos os sentimentos que vieram à superfície com aquele encontro.

Estar com aquelas pessoas que também escrevem me fez lembrar que tem mais gente no mundo além das poucas com quem convivi esse ano. Gente que quero conhecer e por quem quero ser conhecida. O mundo é bem maior que meu espaço limitado deste isolamento. E foi mais especial ainda estar com outras mulheres que escrevem. Senti meu coração todinho preenchido de amor e daquela coisa gostosa que a gente sente quando conhece alguém com quem é bom estar e passar alguns momentos juntos.

No fundo do peito, estava a questão de me ver como escritora. Isso é novo pra mim, mas senti como algo certo, correto e certeiro. Eu consegui emocionar as pessoas que leram meu texto e isso é algo que eu ainda não acredito quando alguém fala, mas pude acreditar quando vi. Como uma pessoa altamente voltada pra dentro, tenho dificuldade de tocar as pessoas e naquele momento, percebi que a leitura do meu texto foi capaz de chegar onde eu não consigo com ações. E é por isso que fiquei um pouco supresa de me ver com aquele poder e aquela responsabilidade.

À flor da pele, veio também aquilo que senti por, pela primeira vez desde março, ter me maquiado e me montado. Reencontrei minha boca pra colorir de batom, meu olho pra fazer crescer com máscara e bochecha pra rougir de vermelho. Lembrei que estou vivendo num ritmo de cansaço e de ser autoempreendedora de mim mesma. Eu terminei de ler A sociedade do Cansaço e fiquei muito impressionada por que esse livro me fez olhar para os últimos meses e perceber que realmente não vivi a boa vida, estava trabalhando com pausas apenas pra me recuperar para mais trabalho. É claro que estamos em pandemia, que não é tempo de termos o que nós conhecemos como festa, mas é, sim, preciso festejar de algum modo e relembrar de que somos deuses também. Meu poder de emocionar e mover tem menos de divino que o meu olhar no espelho que enxergou uma mulher usando sua máscara festiva. Esse poder me fez lembrar de que somos todos os Deuses. Eu repito isso todos os dias ao praticar Yoga, mas tinha me esquecido do real significado do Namastê. Existe divino em todos nós, e isso vindo de alguém que não acredita muito certamente em Deus como dizem que ele é, quer dizer muito. Quer dizer que o que há de mais sagrado pra mim é a humanidade, e eu tinha esquecido disso por estar vivendo apenas para o trabalho, mas agora me lembrei. E fui humana em celebração por algum tempo.

Por fim, a última vez que li algo que escrevi assim deve ter sido na escola, nos concursos de poesia do Festival de Cultura anual do colégio onde eu estudava. E é engraçado como todas essas sensações de uma jovem Anna Carolina escritora foram apagadas mas têm voltado à tona agora que me voltei para a escrita. Outro dia falei com a Fernanda que eu não escrevia poesia desde a adolescência, mas depois me lembrei que inscrevi algumas poesias minhas num concurso durante a faculdade. Sobre o que eram, onde estão e pra qual concurso enviei aqueles versos, não faço a menor ideia, mas a lembrança serviu pra me fazer ver que eu não tive um hiato em nenhum tipo de escrita. O escrever sempre esteve em mim de algum modo mesmo que sem regularidade, só que talvez por não me mostrar como escritora eu tenha apagado isso de mim. Por sorte, até o que é escrito a lápis na alma deixa alguma marca em relevo que pode ser retraçado! Depois que eu me mostrei como escritora, fiz o blog, o instagram, tive um conto selecionado para uma antologia e as pessoas começaram a me ver como alguém que escreve, apareceram outras memórias também. Lembrei de como era excitante ver pessoas lendo o que eu escrevia no ensino médio, como eu gostava de impressionar as pessoas com as palavras escritas (a palavra falada mais pessoal ainda é um pouco difícil pra mim, como eu disse antes. Não é minha especialidade chegar até as pessoas) e essas sensações se relacionam com o que venho descobrindo sobre mim: A minha escrita e eu gostamos de brincar com os sentidos e com o sentir. Quando fiz um instagram pra falar disso, uma amiga de longa data que me apoia em tudo e que muito me orgulha veio me contar que sempre se emocionava com o que eu escrevia, lá no ensino médio. Eu já estava causando alguma comoção com o que escrevia sem nem me dar conta e eu fiquei sem saber que isso era importante pra mim por tanto tempo!

Também notei que tudo isso que falei até agora se relaciona à forma como eu existo para amar e ser amada. E que o muito amor que tenho precisa encontrar outras formas pra estar no mundo. Esse sentimento que eu recebo ou não depende dos caminhos que eu vou traçar no chão pra que ele escoe no poço sem fundo dentro de mim, que eu quero preencher até transbordar, mesmo no terreno árido em que me criaram.

Mas agora que estava aberta para esta consciência, o impacto do Sarau pegou minha alma já sensibilizada de uma vez só e me rendeu páginas e páginas escritas em um diário. A gente só consegue ser mesmo aquilo que consegue ser!

Surgiu outro texto a partir do Sarau que vai aparecer daqui a pouco aqui!

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