Leituras 2020 - Parte 2
Pra quem ainda não leu a primeira parte das minhas leituras, ela está aqui. Seguimos falando um pouquinho dos livros que li neste louco ano chamado 2020.
9. Objetos cortantes - Gillian Flynn
Eram tantos personagens problemáticos que fiquei incomodada. Eu entendo que o livro é justamente uma crítica a essas questões todas de uma sociedade estadunidense mas ainda acho que houve pouca discussão didática sobre algumas ações e comportamentos que abrem margem pra uma normalização de coisas que não são legais.
10. Propósito - Sri Prem Baba
O autor é problemático? Sim. Mas ele tem umas das abordagens sobre a espiritualidade que mais conversa comigo e com a minha visão de mundo. Pra quem busca seu propósito, uma maneira de afunilar ainda mais a percepção do seu papel e de como lidar com a busca desse propósito está nessas páginas.
11. Contos - Machado de Assis
Ai gente, o Machado de Assis é um dos meus autores favoritos. Ele é realmente incrível, a narração dele é tão sagaz, tem uma ironia fina tão contestadora e cada linha que ele escreve tem tanta referência a tanta coisa que a gente lê ao mesmo tempo várias e várias camadas de significado num texto só. Decidi reler essa antologia porque estava com saudade de ter umas boas referências do uso da linguagem, da narração crítica e de uma percepção cínica do mundo.
12. Karma, a justiça infalível - Bhaktivedanta Swami Prabhupada
Meio fatalista e crítico demais às individualidades quando a maior parte das questões karmicas, na minha humilde opinião de uma pessoa que ainda estudou pouco demais sobre o tema mas o suficiente pra dar palpite, vão muito além de decisões individuais e são na verdade ligadas também ao sistema inteiro ao qual as pessoas pertencem.
13. Poemas do coração - Wagner Túlio
Me inspirou a tentar a poesia marota e leve, a brincar com as palavras de forma mais despretensiosa e ao mesmo tempo com confiança e ambição também.
14. Yoga, Mudras e Chakras - Martine Texier, Philippe Vincent
Um estudo interessante que me relembrou que todo o corpo e a mente são um só, tudo está interligado.
15. Histórias e ensinamentos da vida do Buddha - Saddhaloka
Ai ai, Buddha teria conseguido se iluminar se fosse mulher, naquela época, naquela sociedade? Creio que não, né? Eu sinceramente não consegui sentir que aquelas histórias me inspiram, mas talvez tenha lido numa fase cética e crítica em relação à humanidade (e aqui digo no sentido de ser imperfeita, falha e altamente influenciada pela sociedade) das religiões e tradições espirituais. Mas ainda assim, são umas histórias curiosas e eu acho bem enriquecedor conhecer outros contos de outros pontos de vista filosóficos.
16. O Grande Mestre da Cultivação Demoníaca - Mo Xiang Tong Xiu
Por onde começar a falar dessa história que tanto mexeu comigo? Pra começar, quero contar a história de como fui assistir a série live action chamada The Untamed, baseada na série de novels O Grande Mestre da Cultivação Demoníaca. Eu assisto dramas coreanos a muito tempo e sigo pessoas e páginas sobre dramas asiáticos em geral. A algum tempo começaram a aparecer muito frequentemente nas minhas redes sociais as imagens daquele homem de roupa branca e aquele outro de roupa preta. Só que mais gente, não acostumada a assistir séries asiáticas, começou a falar sobre aquele drama chinês e a maioria das pessoas estava no nível de um fanatismo profundo, algo que eu adoro pois se causa paixão, é algo que eu quero. Decidi começar a ver mas nos primeiros episódios eu ainda não conseguia compreender porque aquele casal seria tão envolvente. As pessoas, no entanto, diziam pra eu insistir e avisaram que os 50 episódios passariam rápido. E realmente, depois que a dinâmica do casal começa a se revelar você fica OBCECADE com a relação de Lan Wangji e Wei Wuxian. A trama paralela é muito rica também e a história tem o subtema que é: o que é bom ou mau? Como e quem define o que é bem e mal e como isso age contra as pessoas que não estão no poder nas sociedades? Como as pessoas que não se encaixam nessa dicotomia são vistas como indesejáveis e acabam sofrendo muito mais por isso? Além dessa discussão riquíssima, as relações familiares e as implicações sociais daquele mundo são muito elaboradas e bem desenvolvidas ao longo da história. Depois que acabei de assistir, eu só queria mais e mais daquele mundo (ainda quero!) então fui ler as novels que deram origem ao drama. Eu não posso comparar as duas coisas me usando daquela binariedade 'livro x série' ou 'original x adaptação'. Digo isso porque algumas coisas funcionam melhor no livro e outras melhor na série, mas a história não deixa de ser envolvente e maravilhosa em nenhuma das formas. Driblando a censura chinesa que faz parecer para olhos pouco abertos a todas formas de amor que o casal principal está numa saga sobre amizade, os livros constroem uma relação romântica tão bonita, delicada e mesmo complexa, simples de se resolver. É um amor admirável, e não é a toa muita gente ama demais esse casal (eu inclusive). Quem é que não ama um amor como aquele dos dois? Incondicional, parceiro, respeitoso, devotado e intenso.
Mas ao mesmo tempo, deixo aqui uma reclamação sobre como as cenas de sexo perpetuam estereótipos cruéis e ruins e ainda passam uma imagem de sexo abusiva e sem muito prazer, aparentemente. E mais uma observação: tanto na série quanto nos livros as personagens mulheres são muito mal tratadas, embora sejam incríveis, apaixonantes e complexas.
17. Contos esquecidos - Machado de Assis
Já que tinha lido a outra coletânea de contos dele, acabei me deparando com essa outra antologia na minha estante e a sensação foi a mesma, de apreciação pura. Nesses contos, menos famosos, é possível ver mais crítica social ainda e uma liberdade muito grande para personagens que, escritas por um homem branco da época, poderiam ficar castradas e limitadas em suas ações e representações. Mas o Machado conseguiu deixar mulheres livres, com vontade própria, a classe média mais questionável de um modo irônico a até mesmo cômica. Um autor é um autor, né? Machado era e ainda é gigante.
A terceira parte chega na semana que vem!
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