A cara e o coração do Patriarca de Yiling

 Eu assisti The Untamed no começo da pandemia e, como todas as pessoas conhecidas que chegaram a assistir este drama chinês disponível na Netflix, fiquei obcecada. Eu só fui assistir porque todo mundo que fala dessa série fala com paixão, e eu gosto de ser apaixonada assim. Só que eu não imaginava que amaria este drama nesta intensidade. Amo e penso tanto em Os Indomáveis que, quase um ano depois, ainda penso muito em vários aspectos dessa trama. Como o próprio nome do blog diz, estou escrevendo pra tirar da cabeça. E pode ser que eu ainda tenha que escrever mais!

The Untamed não sai da minha cabeça. Esta seria a minha série conforto se não tivesse 50 episódios, o que a torna um pouco difícil de se apreciar por completo todas as vezes que preciso da certeza que um amor como o de Wei Wuxian e Lan Wangji é possível. Embora a série seja de fantasia e ficcional, ela acaba construindo algo tão plausível e grandioso romanticamente que não tem como não eleger este como o casal mais apaixonado de todos os tempos. Bem, não é possível eu assistir tudo novamente a qualquer momento, mas isso não quer dizer que eu não tenha revisitado a história de outras maneiras. Além de ler as novels que deram origem à série, eu também leio e assisto tudo que puder sobre o assunto, pra pelo menos mitigar a saudade que eu tenho de acompanhar meu casal favorito.



Se você perguntar pra outra pessoa obcecada como eu, provavelmente vai ouvir milhares de elogios ao casal aquileano carinhosamente apelidado pelos fãs de WangXian. A personalidade deles é muito elaborada e interfere diretamente na trama e a maneira como a relação vai se solidificando entre dois homens tão diferentes é tão bonita e intensa. E embora eu ame o romance dos dois, que é explícito nas novels, mas censurado e deixado nas entrelinhas da série live action (existe também uma versão animada da mesma história, e ainda uma outra em quadrinhos), não estou aqui pra falar sobre o romance deles. Pelo menos não hoje. Estou aqui pra falar sobre outro aspecto importante da trama: a discussão sobre bem e mal, bom e mau.


Desde o começo, Wei Wuxian é descrito por outros personagens como um homem mau, mesmo antes que tenhamos sido apresentados à sua história. A fama do grande patriarca de Yiling é de ser um devasso terrível, um homem desonesto e cruel e um assassino sanguinário. Por outro lado, Wangji é um homem íntegro, respeitado e com uma conduta impecável. Seu clã também é conhecido pela disciplina, justiça, sobriedade, inteligência e dedicação. Até mesmo suas roupas, sempre impecavelmente límpidas e ajustadas nos mostram sua perfeita conduta ascética. A autora Mo Xiang Tong Xiu e a direção do drama usam as nossas pré-concepções de mundo, certo e errado, bem e mal para nos conduzir pelos questionamentos a respeito da conduta dos personagens.

A ordem dos eventos apresentados é diferente nos livros, embora a trama seja basicamente igual ao do drama. No entanto, para fins de comentários sobre esse aspecto específico sobre o qual decidi falar hoje, vou me ater à ordem e à forma que a série nos apresenta a história. A trama não linear começa em meio a um caótico campo de batalha onde uma cena particularmente dramática nos dá o tom de todas as reviravoltas que virão. Aparte de todas aquelas lutas, o jovem Wei Wuxian é salvo da queda de um abismo por Lan Wangji, inteiramente de branco e usando todas as suas forças para segurar o outro, mesmo estando ferido. Wangji não aceita deixá-lo, mesmo que o rapaz não insista em viver, já que aquela situação também está colocando em risco a vida de seu salvador. Uma troca de olhares significativa deixa no ar o tipo de relação entre aqueles dois, mas antes que Wuxian se deixe ser salvo ou Wangji o solte, um terceiro elemento aparece: um homem raivoso que acaba atacando Wuxian com ódio no olhar, fazendo-o se soltar antes que Wangji caia junto com ele. O corpo cai no precipício, Wangji fica desolado.




Depois dessa introdução dramática, passamos a ver o que acontece 13 anos depois. O começo da história pode ser um pouco confusa para quem nunca teve contato com o mundo Wuxia, um gênero literário e audiovisual que explora fantasia histórica, artes marciais e lutas de espadas. A série de 50 episódios também é classificada como Xianxia, incluindo além dos elementos citados anteriormente mitologia e folclore chinês, super poderes, daoismo e interferências sobrenaturais ou personagens imortais como deuses e seres iluminados (nesta história, temos mortos-vivos, fantasmas, criaturas assustadoras, uma deusa e menções a humanos misteriosos muito perto da iluminação). Apesar das poucas explicações iniciais de como aquele mundo funciona, somos apresentados ao jovem Mo Xuanyu, que oferece seu corpo em sacrifício para que o Patriarca de Yiling possa retornar à vida. Wei Wuxian se mostra logo um homem tão poderoso e inteligente quanto as lendas que envolvem seu nome e mesmo tendo voltado dos mortos depois de treze anos de sua morte misteriosa, retorna à ativa rapidamente, lidando com os mistérios sobrenaturais em seu caminho com certa tranquilidade, mesmo estando sem seu corpo original.

Lan Wangji, agora um disciplinado mestre responsável pelo ensino dos jovens em aprendizado que por aparente coincidência acabam sempre cruzando o caminho do recém-retornado Wuxian, acaba percebendo o retorno do outro, mesmo que ele tente ser discreto e se disfarce (muito mal) com uma máscara. (Nas novels, Wuxian está em um novo corpo, não precisa realmente se esconder. Na série ele usa uma máscara para que a gente veja o mesmo ator interpretando o personagem - não reclamo porque se eu fosse roteirizar a história também ia querer manter o Xiao Zhan interpretando as duas vidas de Wei Wuxian, mas sei lá, uma máscara e o mesmo estilo de roupa e um dos personagens mais inteligentes da trama considera isso disfarce? Passamos pano, assim como fazemos com os efeitos especiais, e seguimos). 

Apesar de todos os rumores que acabamos ouvindo dos personagens a respeito da má fama do Patriarca de Yiling, Wangji acaba se mantendo por perto sem contestá-lo e aquilo parece um pouco estranho. Wuxian parece ter medo de Wangji, mas o homem não demonstra muitas emoções com clareza. Outros personagens com alguma conexão com o passado de Wuxian cruzam o caminho dos dois e todos parecem odiar e desejar uma nova morte do patriarca, caso ele tenha mesmo voltado. O recém ressuscitado não recorda muito bem dos eventos finais de sua vida passada, e nós, telespectadores, estamos prestes a descobrir como ele chegou a seu fim, que já vimos como acontece.

Passamos a mais um flashback, que inicia uma narrativa linear de toda a trajetória do Patriarca de Yiling, desde o momento em que ele conhece Lan Wangji até os eventos que levam a sua morte dramática, que vimos na primeira cena. Agora acompanhamos Wei Wuxian saindo de sua região com Jiang Cheng (o homem que o fez cair do penhasco!) e a irmã deste, a adorável Yanli. O jovem órfão Wuxian foi adotado pelo amoroso senhor Jiang e criado como irmão dos dois companheiros nessa viagem, embora não tenha sido muito bem aceito pela mãe deles. A relação fraternal entre os irmãos é caótica, com brigas, discussões mas companheirismo sempre mantido principalmente pelo afeto da cuidadosa e doce Yanli, que trata os dois como iguais, mesmo que só Jiang Cheng seja seu irmão biológico.

Os três vão rumo a uma espécie de convenção de estudos na seita Lan, localizada em montanhas paradisíacas e calmas onde tudo é organizado e moderado e a disciplina impera. Wei Wuxian é um contraste à serenidade e à ordem dos habitantes do Recanto das Nuvens. O primeiro encontro entre Wuxian e Wangji acaba sendo um confronto. Wuxian é amigável e tenta sempre se aproximar do outro, mas recebe desde o começo a rejeição de Wangji. O jovem senhor Lan aparentemente odeia Wei Wuxian por ele ser uma personificação do caos. Sua seita é séria e cheia de regras e embora tenham a mesma idade, Wuxian é um adolescente brincalhão, falante e que gosta de tudo que é proibido entre os Lan: álcool, pornografia, comer e se divertir. Durante sua convivência, o responsável e comprometido Wangji, apesar de desprezar aquele tipo de comportamento, sempre é surpreendido porque Wuxian é uma das poucas pessoas com inteligência, habilidades e talento equivalentes à dele, embora sempre fuja dos métodos formais do estudo da cultivação. Aquilo chama sua atenção e faz com que Wuxian ganhe ao menos seu respeito e consideração, embora não de forma declarada. A relação cheia de implicâncias e desentendimentos vai se desenvolvendo. Mesmo estando em situações nas quais os dois precisam colaborar, Wangji se mantém distante, frio e calado. Seus atos mostram que ele passa a defender o outro, se preocupar com ele, embora Wangji nunca fale sobre isso. O personagem é tão sério e reservado que fala poucas vezes, se comunicando especialmente com monossílabos e expressões faciais.



Vamos acompanhando alguns mistérios sobrenaturais que acabam se mostrando parte dos planos da cruel seita Wen, que tem como objetivo se tornar a principal e mais poderosa entre todos os grupos principais. As seitas são comunidades formadas por clãs familiares para ensinar cultivação, uma espécie de domínio das habilidades e energias do corpo através da luta, controle do qi, meditação. Cada clã ou seita busca dominar estas artes para que possam ajudar aos cidadãos comuns das vilas daquela China Medieval a se livrarem das interferências sobrenaturais. Aqui temos mortos vivos, fantasmas e outros tipos de criaturas que começam a se mostrar controladas pela seita Wen. Os membros de outras seitas começam a se juntar em uma frente ampla aliança contra aquela dominação explicitamente cruel e injusta. À frente do grupo está a rica e luxuosa seita Jin, que vai aos poucos de revelando igualmente cruel e injusta, mas não de forma aberta.

Numa sequência de batalhas e eventos, às vezes motivados por desavenças pessoais entre Wuxian e os Wen, o jovem Wei acaba desenvolvendo seus poderes usando truques não muito bem vistos pela sociedade de cultivação. Eles são poderosos e ajudam a aliança a vencer batalhas com facilidade, mas justamente por concentrarem tanto poder nas mãos de uma só pessoa, Wuxian começa a ser questionado. Dizem a ele que ele pode se perder no caminho, mas ele afirma que não. No meio do caminho, várias tragédias acontecem, abalando a proximidade dos irmãos de criação Jiang e fazendo com que todos tenham perdas terríveis. A fama do patriarca de Yiling, ostracizado e mau visto vai crescendo, embora possamos ver que ele não faz nada além de defender o certo e o justo. As expectativas e os padrões sociais não são limites para ele, e ao contrariá-las, a sociedade escolhe criar um rótulo ruim para ele, especialmente porque ele detém agora muito poder. É uma forma de mostrar como não se deve repetir aquele tipo de comportamento, que depois de certo ponto já não contraria a seita Wen, mas os novos líderes daquela sociedade: a em geral corrupta e tão injusta quanto o grupo anterior, seita Jin.

Inexplicavelmente, por ter conhecido Wuxian no tempo em que foram forçados a conviver e depois, ao longo da guerra para eliminar do poder a seita Wen, Lan Wangji dá a Wuxian o benefício da dúvida. Ele parece ser o único que confia que ele não irá se perder com tanto poder em mãos. Mesmo quando todos dizem que ele irá se desviar para um lado mais sombrio, Wangji chega a defendê-lo. A guerra se desenrola, a aliança vence e aparecem em meio aos personagens principais dessa guerra gente poderosa do lado vencedor que quer se manter no poder. A seita Jin tem um histórico de homens infiéis e sedentos por poder, filhos bastados e atitudes cruéis com as mães destes. Vou mencionar um destes personagens mais adiante. Mas por enquanto, basta saber que Wei Wuxian os desafia. E mais uma vez Wangji observa os passos de Wuxian com cautela, sem que os espectadores entendam claramente o porquê. Ele não se põe contra ele, mesmo em meio a reviravoltas que fazem Wuxian parecer o culpado de coisas terríveis: assassinatos, traições e tramas malignas que na verdade nunca existiram. No fim, descobrimos que eram apenas manipulações dos vilões tentando descredibilizar quem os contestava.

Chegamos enfim à cena onde começa a série. Wangji é o único homem a defender Wuxian, mesmo contra todos. Ainda não entendemos muito claramente os motivos, embora seja evidente que sentimentos estão se desenvolvendo entre os dois, muito além de amizade e confiança. (Na novel, os dois já tinham se beijado. Na série, o beijo foi substituído por uma conversa na qual os dois se declaram almas-gêmeas). Acuado e traumatizado por uma perda enorme que sofreu durante aquela batalha, Wuxian acaba à beira do precipício. Jiang Cheng sofreu a mesma perda e por isso culpa Wuxian e deseja sua morta também, que acontece, como já vimos desde o princípio.

Voltamos ao sacrifício de Mo Xuanyu, que deu seu corpo para que Wuxian retorne. Wangji é agora um homem de cerca de trinta anos, responsável pelo ensino de adolescentes da mesma idade que ele e Wuxian quando se conheceram. Apesar de as aparências serem similares, vamos percebendo que, ao menos em relação às transgressões de Wuxian, Wangji já não se preocupa mais com as aparências que deveria manter por sua seita. E só então, em meio a mais mistérios sobrenaturais conectados ao passado de Wuxian, as intrigas que causaram sua morte, conspiração política e a maledicência do povo, é que os dois vão sendo sinceros um com o outro sobre o passado e o presente. Os vilões vão se revelando e seus planos e intenções se descortinam. E começamos a entender claramente as motivações dos dois personagens principais.

O passado de Wangji é doloroso. Ele foi criado pelo tio rígido e disciplinador, já que seu pai e sua mãe viviam em desavenças. A mãe, exilada pelo próprio pai em um quarto por ter uma simpatia a truques como os que Wuxian usa. O pai, um asceta com sentimentos confusos pela mulher, acaba sendo, além de abusivo como marido, ausente enquanto pai. A única fonte de afeto para Wangji é seu irmão, Lan Xichen, que apesar de criado com a mesma disciplina acaba sendo mais leve e compreensivo. Wangji esperava pela mãe todos os meses, nos raros momentos em que ela podia visitá-los durante a infância. A mãe, carinhosa e livre da rigidez que o cercava, era o seu exemplo de amorosidade. Pode ser que Wangji tenha feito a mesma conexão ao ver o comportamento de Wuxian: Onde há caos e indisciplina, há também amor. E talvez por isso, o adolescente irritado com o comportamento do outro ainda assim não negava as tentativas do outro de se aproximar (ao menos não com tanto esforço). Nos anos entre a morte de Wuxian e o seu retorno no corpo de Mo Xuanyu, descobrimos que Wangji questionou sua seita, seu clã, sua criação e a condenação e a punição que levaram Wuxian a seu destino trágico. O que é certo, o que é errado? O que é o bem, o que é o mal? Quem é dito bom e quem é dito mau?

Quando conhecemos melhor Wangji e comparamos sua vivência com tudo que já sabemos sobre Wuxian, podemos entender que existe sim o certo e o errado, o preto e o branco. Mas entre esses extremos existem outros muitos tons de cinza.

Os questionamentos fazem a trama girar e passamos a entender não só o desenvolvimento de Wuxian em sua trajetória, mas também compreendemos a aceitação de Wangji em relação aos comportamentos do outro. O que ele cresceu aprendendo que era errado, fica claramente exposto como algo certo. E, no sub-texto, isso também tem a ver com a sexualidade dos dois. Somente depois que questiona os limites entre bem e mau e certo e errado é que Wangji aceita que os sentimentos que surgiram por Wuxian não são errados. Só não são aceitos pela sociedade. É por isso que, depois que Wuxian ressuscita, Wangji, mais maduro e tendo refletido sobre tudo aquilo que Wuxian o provocava a pensar, já tem outra postura. Ele continua calado, disciplinado, rígido, mas apenas consigo mesmo porque entende que o ascetismo e a disciplina são bons para ele mas não para todos, e são também parte de quem ele é. O homem, diferente do rapaz de dezesseis anos que conhecemos no passado, já não questiona mais os comportamentos que antes eram motivo de desentendimento entre ele e Wuxian. O outro gosta de beber, comer, explorar sua sexualidade (embora nunca tenha feito sexo ou tido um envolvimento romântico de verdade até então), diversão, mas... porque isso seria errado se logo ele foi a pessoa que mais agiu conforme o que era verdadeiramente certo?

A série discute moral e ética nas entrelinhas e nos mostra como a sociedade define coisas como certas que na verdade não são, e vice-versa. Por questionar essas barrerias, Wuxian é marginalizado, maldito, caluniado e isso causa sua morte. Ao fazer os mesmos questionamentos, Wangji é punido severamente e carrega no corpo as marcas e cicatrizes por toda a vida. Mas ele sobrevive. Não só por ter se submetido mais às regras a ponto de não ter sido ostracizado, mas também, e principalmente, porque ele não é um personagem totalmente transparente em relação ao que acredita. Wuxian mostra e explicita suas intenções, desejos e não esconde nada do que pensa até mesmo de modo arrogante quando mais jovem. Ele se mostra mesmo que seja contra o que todos acreditam porque ele faz o que acredita que é certo. E de fato, ele está certo. É julgado por sua cara, pelo que mostra, mas não por seu coração. Wangji, que não mostra muito do que sente, é poupado do julgamento mais cruel, justamente porque não mostrou sua cara, quanto mais seu coração por inteiro.


Aquela sociedade é um reflexo da nossa. Lá as aparências têm mais importância do que a essência das pessoas, lá a fofoca também vai distorcendo os fatos até que a mentira repetida se torne uma espécie de verdade incontestável. Isso fere as pessoas, mas houve quem se beneficiasse.

Em meio a toda essa trama, vemos a ascensão de alguns vilões. Alguns menos óbvios, alguns verdadeiramente surpreendentes. Alguns deles são indefensáveis, apenas uma representação do mal puro e simples. Outros antagonizam o casal principal, mas ainda é possível compreender suas motivações. Um representante deste último grupo é Jin Guangyao. Filho bastardo do infiel líder de seita Jin, Guangyao é renegado e humilhado muitas vezes por ser filho de uma prostituta e sua motivação é ser aceito pelo pai. O afeto sempre negado vai deixando com que sua ambição o domine. Sua esperança era ascender socialmente e mais tarde ser um bom líder, para enfim conquistar o mínimo de seu pai infiel e rude: reconhecimento e respeito. 


Guangyao precisa ser desmascarado. Embora ele seja apontado como suspeito óbvio e passe por várias situações das quais seria quase possível escapar sem ser considerado culpado, ele consegue se desviar de todas as acusações porque é um homem gentil, prestativo e faz, ao menos aparentemente, tudo que a sociedade espera de um homem de seu porte. Ao contrário de Wuxian, ele não demonstra suas intenções, o que é óbvio já que ele é um vilão que não vemos como mau o tempo todo. O mistério de suas intenções são mais um ponto de suspense da trama, inclusive. Esse comportamento, no entanto, também encontra similaridades no de Wangji que é discreto e reservado, ou seu irmão, Lan Xichen. Só que Guangyao comete o verdadeiro mal, aquilo que é realmente errado, usando-se de sua aparência gentil e inofensiva. As intenções dele são ainda melhor disfarçadas porque ele não mostra suas verdadeiras habilidades e poderes, deixando que todos vejam apenas sua face frágil. Até mesmo sua estética é comportada, amável e prestativa, com sua voz suave e sorriso eternamente em seu rosto.

Quem vê cara, não vê intenção. Quem vê um homem bêbado falando obscenidades não vê seu coração justo e íntegro. Quem vê corpo fraco e sorriso gentil, não vê vilão. E vale assistir cada minuto dos 50 episódios de The Untamed para admirar essa construção e como ela contesta as noções de bem e mal que a sociedade força de forma rígida, parcial e depois usa para marginalizar quem vai contra seus padrões e definições.




(E vale também assistir pelo romance! Ah, meus Wangxian: o casal mais apaixonado do mundo!)



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