Pequena lista de não-realizações
É preciso viver o luto das perdas e derrotas que vivemos, é preciso reconhecer o aprendizado que pode existir nos fracassos, embora alguns não tenham nada a ensinar. Ninguém vive como deseja viver e as não-realizações não definem quem somos, mas definem quem gostaríamos de ser e como desejaríamos viver - e isso diz muito sobre nós. Eis a lista de tudo que me foi negado, porque faz parte da minha história, também, a minha não-história.
1. Não amei como queria ter amado e nem recebi o amor que julgava merecer.
Fiz só o que deu pra fazer. E agora não dá pra voltar atrás. Quem vai me indenizar pelo amor perdido? Quem paga pelo meu tempo perdido?
2. Não tive os sucessos que desejei, só os que mereci - e olhe lá.
E ainda assim, não quero soltar as ambições, porque só tendo elas nas mãos é que caminho. Me alimento de sonhos. Vou seguindo e contando as vitórias, as poucas que tive sem deixar de reconhecer as derrotas - elas também fazem parte do caminho.
3. Não venci alguns medos.
Porque não tinha armas pra lutar. Se pudesse, teria pelo menos enfrentado com mais dignidade. Não deu nem pra entrar nessa batalha. Perdi por w.o. Mas outros confrontos virão e talvez eu esteja melhor preparada e armada pros próximos. Não dá pra saber.
4. Não sorri como gosto de sorrir.
Meus sorrisos foram de resistência. Por teimosia. Quem me queria ver infeliz não viu, mas eu sei que o sorriso não era sempre um autêntico mostrar de dentes da felicidade. Que saudade dos meus sorrisos sinceros de alegria, de euforia, de realização, de reconhecimento! Se eu resistir um pouco mais, talvez a felicidade consiga voltar e aí o espelho também vai me ver rindo sincera outra vez.
5. Não disse todos os adeus que precisava ter dito.
Algumas pessoas, alguns planos, alguns desejos, apenas deixei ir. Abri a palma da mão e deixei que voassem, livres. Outras coisas, senti que escorriam por entre os meus dedos, mas quanto mais apertava as mãos para segurá-las, mais rápido se esvaíam, e depois de derramadas, como mercúrio líquido espalhado pelo chão, não consegui capturar novamente. Outras vezes, agradeci por não dizer adeus. Não ainda. Não agora. Só um pouco mais e eu digo o adeus, eu prometo. Eu sei que algumas despedidas são inevitáveis. Mas toda vez que eu ver a morte vou pedir, suplicar e negociar pra que ela volte outra hora. Não me importa quem ela procura quando bate à porta. Enquanto eu tiver forças vou trancar a porta e segurar a maçaneta, resistir quando ela empurrar e se não tiver jeito eu peço: Hoje não, eu imploro! E qualquer segundo a mais será vitória pra quem fica. Alguns tipos de adeus a gente faz bem em evitar, porque a vida é frágil e breve. Outros a gente devia precipitar, pelos mesmos motivos.
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