Segundo Platão
Gosto de fechar os olhos e pensar você.
Penso em quando você tira a roupa. Não pra mim, pro banho. Gosto de pensar que muitas pessoas veem o corpo que eu amo. Algumas podem ter visto despido. Mas talvez nenhuma delas tenha visto esse corpo cansado do trabalho, se jogando no sofá frustrado, entrando na cozinha com fome procurando comida na geladeira. Despido das roupas e do máximo das inibições e se expressando no máximo da sua honestidade? Só eu vi. Só eu testemunhei esse corpo febril e carente, querendo colo de mãe mas não querendo admitir. Nem sua mãe viu isso, e você já esteve dentro do ventre dela. Talvez vocês reconheçam as entranhas um do outro, mas só eu reconheço a criança que ainda mora da sua pele pra dentro.
Gosto de pensar que as pessoas que tocaram seu corpo descobriram como você gosta do arrepio que dá quando suas orelhas recebem o calor de uma boca, a dureza dos dentes, a umidade da saliva. Mas só eu - só eu - vejo elas sem as argolas prateadas que você usa pra enfeitar. Só eu te vejo antes do sono, antes, durante e depois dos sonhos. Gosto de imaginar que sou a única pessoa que conhece esse segredo e tantos outros, que muitos sentimentos seus, só eu sei.
De olhos fechados, sorrio. Gosto de imaginar você.
Gosto tanto de você. Da ideia de intimidade sendo essa visão que só eu tenho e, em troca, posso deixar você ver algo de mim que ninguém mais viu. Gosto tanto de você.
Você nem imagina o quanto.
Você nem imagina.
Tudo isso é ideia. Seu corpo é um universo inteiro que eu desconheço, e no qual nunca pude me expandir. A nossa intimidade vive nesse mundo, de ideias perfeitas, onde também habita a relação que não temos. Onde habita você, em carne e ossos da minha projeção. Seu corpo despido em toda sua perfeição imaculada não está neste mundo, o que habito. De tudo que penso, só o que fica de concreto são as argolas dos brincos. Que nunca tocaram orelhas como as suas.
Gosto muito de pensar. Gosto de imaginar você.
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