Kriya-ativa: Parte 3 - Manipura

uma flor de girassol contra o sol


O amor próprio não é um olhar para si que ignora os defeitos e exalta as qualidades. Pelo contrário, esse tipo de amor é o entendimento do valor real que temos, uma compreensão mais precisa de quem se é, mesmo que isso inclua suas imprecisões. Amor a si mesmo é conhecimento de tudo de bom e de ruim, potenciais e limitações e aceitação dessas polaridades como parte do que temos a oferecer ao mundo. Esse amor é na verdade um entendimento das razões pelas quais somos como somos e o direcionamento dessas exatas potências, com suas limitações para servir ao mundo de uma forma mais precisa. Não é exatamente um processo de se sentir encaixado no mundo. É, na verdade, perceber como o mundo também se encaixa em nós. O Manipura chakra é o terceiro dos chakras, localizado no centro do abdômen, e ao longo de toda a vida, mas mais especificamente na idade dos 14 aos 21 anos, ele nos ensina a preciosa lição de que temos - todos nós - um papel único e especial no universo.

No corpo físico, este centro energético se conecta aos órgãos da digestão e a glândula ligada a ele é o pâncreas. A musculatura abdominal também sustenta a firmeza de nossa coluna e esta é o eixo em torno do qual todo o corpo se alinha. Quando estamos com este centro energético equilibrado, nos portamos com firmeza diante do mundo, tanto física quanto mental e emocionalmente, porque sabemos o nosso exato valor. Este entendimento nos ajuda a deixar o fluxo da vida passar por nós sem que nossa essência se perca ou que nos deixemos levar.

O amor próprio muitas vezes é enxergado como um sentimento mágico que nos coloca acima dos outros e nos ensina que somos melhores ou superiores de alguma forma. Mas é bem o contrário: o amor próprio nos coloca em patamar de igualdade com as outras pessoas; afinal de contas quando descobrimos o quanto somos preciosos, isso nos revela que não temos nada de especial em relação aos outros. Somos, na verdade, tão importantes e especiais quanto todos os seres humanos e formas de vida. O nome Manipura significa cidade das joias, pois é neste local e tempo que encontramos aquilo que tem valor para a nossa existência. Não por acaso, é nesta idade - o fim da adolescência e o começo da idade adulta - que tendemos a começar a pensar nas nossas habilidades e trabalhamos para o desenvolvimento mais apurado de qualidades que possam servir à nossa sociedade. Iremos servir à sociedade porque ela também nos serviu nos anos anteriores e continuará nos servindo. Ela nos alimentou, nos ensinou quem somos para que agora possamos continuar a alimentar seu funcionamento e sustentar as próximas gerações. É nesta idade que pensamos e escolhemos nossas profissões e costumamos ter a sensação de que o universo passa, temporariamente, a girar ao nosso redor e de nossas escolhas. Normalmente nesta idade nos voltamos para nosso desenvolvimento pessoal, algo necessário e importante e que não deve ser visto como egoísmo. O sistema nos passa a a impressão de estar girando ao nosso redor - como se fôssemos o sol - para que possamos ver todas as nossas possibilidades e possamos fazer escolhas e ter aprendizados que nos permitam servir à vida nos anos futuros.

A cor amarela, do ouro precioso de Oxum, do amor, do sol que permite que tudo seja visto e faz a alquimia da vida, da vitalidade, é a cor deste chakra. Assim como o sol amarelo brilhante nos dá calor, o fogo é o elemento relacionado à esse centro energético. Essa chama - ligada ao fogo digestivo no plano físico - digere nossas impressões do mundo mas também atiça, ilumina e aquece nossa criatividade.

Certamente a arte se conecta com a criatividade. Não apenas quando pensamos em criatividade como uma maneira de enxergar possibilidades distintas para se executar as ações que todos fazem - porque, já que estamos entendendo quem somos com mais clareza aqui, experimentamos nossa singularidade - mas também quando pensamos o próprio ato de criar.

Até então, em nosso processo de individuação, recebemos dos nossos ancestrais a vida e a sustentação, depois sentimos o outro e agora aprendemos quem somos justamente para oferecer algo ao mundo. Ainda não atingimos nossa plena capacidade de oferecer quem somos ao mundo, mas a lição de Manipura é que - através da experimentação - vamos aprendendo quem somos e começamos os nossos primeiros atos de output, depois de tudo que recebemos, sentimos e processamos. É aqui também que começamos a digerir mais conscientemente o mundo e nossas experiências na vida, e são estes processos que nos levam a sermos quem somos.

Este será o nosso primeiro momento de oferecer ao mundo algo nosso e, enfim, expressaremos algo mais voltado à nossa identidade. É aqui que começaremos a definir nosso estilo único que se manifesta em todas as ações da vida, mas também naquilo que produzimos artisticamente. Nossos temas centrais e a própria maneira como executamos o que pensamos se manifesta aqui.

Proposta de produção:

Como as pessoas ao seu redor te identificam? Faça uma lista, e se desejar, você pode mesmo perguntar a elas como elas reconheceriam você - não apenas fisicamente, mas também a sua personalidade. Caso já produza arte publicamente, cabe perguntar às pessoas como as pessoas identificariam a sua arte mesmo se ela não tivesse a sua assinatura? Faça uma lista com essas características e produza algo sobre outras pessoas (desenhe, pinte, esculpa, borde, escreva sobre um personagem real ou totalmente ficcional), mas utilize as características da lista para elas. Depois, pense em um lugar - real ou metafórico - para esta arte, onde ela possa ser vista por outras pessoas. Ofereça sua arte de algum modo para servir ao mundo!

Seguindo a jornada dos chakras, o herói ou a heroína entende enfim como seu poder pode começar a servir ao mundo, e faz suas experiências para entregar-se a seu papel de herói.

tabela com as fases da jornada do herói
A jornada do herói

gráfico com as fases da jornada da heroína
A jornada da heroina


Na jornada do herói, nosso personagem já encontrou-se com seu mentor e passou por seus primeiros desafios, encontrando nesta estrada amigos e inimigos enquanto enfrenta suas dificuldades. Nossa heroína já passou pela estrada de provações em que experimenta o mundo ao se ver de frente a desafios distintos.

Depois dos primeiros passos da jornada, o herói acaba sendo levado para uma jornada interior. Muitas vezes presos pelas circunstâncias, às vezes apenas como fuga, os personagens que seguem este trajeto passam por esta pausa para entender melhor quem são. O momento de reflexão é como um olhar para dentro que permite que o personagem que estamos criando entenda melhor suas origens, suas experiências e aprendizados anteriores e, a partir daí, ele pode descobrir o valor do tesouro que reside nele mesmo. Arquetipicamente, esta fase da jornada recebe o nome de caverna oculta porque é ali, neste espaço interior que estão as jóias de sua personalidade.

Depois desta pausa, o herói adentra ainda mais profundamente seu mundo interior, e nesta jornada de autoconhecimento, é depois dela que o personagem que criamos entende um pouco melhor a função de seu poder e como usá-lo. Quando criamos uma trama que segue este modelo narrativo, devemos considerar aqui o que o personagem já aprendeu e o que ele tem capacidade de entender sobre sua própria trajetória até aqui. Então, tendo compreendido qual o seu poder e tendo dominado brevemente suas habilidades, podemos considerar um pouco melhor como este poder pode servir ao mundo. Ao sair da caverna oculta, deste seu casulo preparatório, nosso personagem vai ter mais certezas de quem é, e se sente pronto (embora nem sempre esteja) para enfrentar os próximos desafios. Então, como autores, é justo que pensemos qual poder nosso personagem possui e o que precisa aprender para entregá-lo ao mundo.

Já a jornada da heroína nos leva para a ilusão do sucesso. Por ter enfrentado toda uma estrada de provações, obstáculos e até mesmo inimigos, a heroína chega a este ponto de sua jornada em que acredita ter obtido o sucesso que desejava. Este ponto é provavelmente o ápice de sua dedicação ao universo e às energias masculinas, pois é aqui que, apesar de ter conquistado muitas coisas que deseja ou após ter vencido as provações anteriores, ela descobre que este sucesso não é suficiente. Uma possível divisão pode ser feita entre a ilusão de poder, quando pensamos ter chegado a um ápice do nosso poder com base na brutalidade e na força direta, e a desilusão a respeito desse sucesso, quando a heroína percebe que para obter suas vitórias precisou deixar de lado seu lado mais delicado e suave. Normalmente é um momento de triunfo seguido da estarrecedora conclusão de que os topos das montanhas são frios, desertos e têm pouco oxigênio, o que a prepara para a descida que vem a seguir e a chegada aos conflitos e resoluções do quartro chakras.

Os personagens que passam por essa jornada de individuação sabem quem são, mas as vezes se deixam levar pelo ego - o que acontece com aqueles que ativam excessivamente o terceiro chakra. É preciso saber nosso valor, mas isso é só um passo do nosso caminho. Manipura nos ensina sobre o nosso valor real, e às vezes chegamos a esse ponto tendo certezas demais, justamente porque passamos pela vitória, tentativas e erros para obter esse entendimento. O autoconhecimento é parte da jornada do herói e da heroína, e depende muitas vezes de uma pausa para reflexão para que enfim possamos entender com mais clareza o valor de nossas jóias, para entregarmos a quem desejamos futuramente, quando trabalharmos o quarto chakra: o do coração

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