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O paradoxo enlouquece: é por saber que tudo é efêmero que as coisas se tornam tão definitivas.

Nunca mais seremos os mesmos, aqueles que somos agora. Um segundo depois - talvez nem isso, porque sabemos bem como o tempo é traiçoeiro - e nossas moléculas, células, tecidos e órgãos já não são mais os mesmos. A versão de nós que pensou e agiu naquele ponto do espaço-tempo fica preso para sempre ali, naquele aqui e agora tão breve. Também é a eternidade ou a cota dela que nos cabe que torna a finitude tão cruel. É porque sabemos que o tempo passa rápido demais quando estamos com aqueles que amamos e lentamente demais na ausência deles que nos apegamos. Nos agarramos ao que temos agora, mesmo sabendo que vai passar. Como tudo inevitavelmente passa.




Ouço Caetano derramar sua lágrima nordestina e engrosso o coro:

Existirmos: a que será que se destina?

Quem ouve Cajuína não pode passar pela canção sem questionar também, pode? É tão difícil não se entristecer pensando que a matéria-vida segue sendo tão fina. E o questionamento-canção-ladainha-meditação-oração-suplício se repete: A que será que se destina? Para que serve se é tão breve? Para que tão extensa se é tão dolorosa? O que viemos fazer aqui? E para onde devemos ir? É possível encontrar um norte ou um oriente em meio a movimentos que desnorteiam e a acontecimentos que desorientam? A que será que se destina?

Tenho pensado que a consciência nos faz captar no ar uma dor que antes poderia passar despercebida, mas também ouço monges e sábios dizendo que a ignorância é que causa sofrimento. Acredito nos dois: em mim, porque sinto, neles, porque penso. E o paradoxo, outra vez, enlouquece. Será que existir sem consciência é mais fácil que ter tudo isso turvando a mente enquanto tentamos também sobreviver e nos livrar da dor?

Será que existe resposta para essas perguntas? E se existir, ela torna a vida mais fácil?

Nunca tomei cajuína, e nunca fui a Teresina. Será que é para lá que me destino?

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