Tempo ao tempo

Perdi um tipo de pressa, ganhei outro.

A pressa que eu perdi é o anseio pelos resultados e consequências das ações - minhas e dos outros. Entendi que um ingrediente essencial de qualquer processo é tempo. E tudo é processo, não é?

A pressa que ganhei é pra que eu tenha tempo. Se a lentidão de alguns processos é inevitável, o tempo se prova indispensável. Talvez, no fundo, nunca seja possível apressar nada. É preciso aguardar pra que tudo seja como tenha que ser.

Então, tenho pressa pra que o tempo seja dado ao tempo. É a falta dele que tem feito as coisas se atropelarem. Quando é que a gente vai aprender que só o tempo ensina algumas das nossa lições e remedia alguns dos nossos males? A gente não tem tido tempo pra assimilar as coisas. A gente não processa mais nada, a gente só engole, passa por cima, segue em frente, sem nunca usar nossa racionalidade pra de fato apreender o mundo ao nosso redor. 

Perder tempo pra ganhar dinheiro tem sido nosso lema. Tempo é dinheiro, então quando ganhamos dinheiro ganhamos tempo, certo? Errado. Tempo é tempo. Dinheiro - e o valor dele - é um delírio. E nós perdemos tempo correndo atrás disso. Não vejo a hora de todo mundo entender que nós erramos ao dar valor ao dinheiro.

A gente devia dar valor é ao tempo.

É o nosso único bem, a única coisa que podemos investir e que nos pode dar algum retorno digno. A gente não precisa de fato de dinheiro. A gente precisa é de tempo pra esperar a horta nos alimentar, tempo pra cultivar os nossos afetos que também alimentam, tempo pra entender o funcionamento da vida e conseguir se encaixar nela. Tempo pra ouvir aos outros e aprender o que eles já sabem, que pode nos ajudar a gastar o nosso tempo de forma mais sábia.

Mas quem é que tem tempo quando a gente precisa correr atrás de dinheiro?

A gente devia ter pressa pra ter tempo. Passamos da hora. Mas, veja bem o paradoxo: só aprendi isso com o tempo. Porque tive tempo. Só o tempo me ensinou a perder a pressa. Mas ainda assim, eu tenho pressa.